
O morto não está de sobrecasaca
não está de casaca, não está de gravata
o morto está morto não está barbeado
não está penteado não tem na lapela
uma flor não calça, sapatos de verniz
não finge de vivo não vai tomar posse na Academia
O morto está morto, em cima da cama,no quarto vazio
como já não come, como já não morre enfermeiras e médicos
não mais se ocupam dele: cruzaram-lhe as mãos ataram-lhe os pés
e se retiraram
O morto está pronto.
Só falta embrulhá-lo/e jogá-lo fora
Ferreira Gullar