quarta-feira, 6 de janeiro de 2010

Estranho, muito estranho!

O frio da madrugada me fez fechar o zíper da jaqueta e a chuva que começava a cair deixava mais dura a noite na recepção do Hospital Santo Antônio.
Sentei no grande sofá e fiquei analisando as fotos na parede que exibia freiras em seus trajes brancos de doer os olhos.
Viajei um pouco na história daquele lugar pensando nas dificuldades da vida no século XIX.
Senti levemente alguém se aproximar de mim dizendo:
- Impressionante, não?
Voltei meu rosto para ver quem se dirigia a mim. Era um homem magro, muito alto, com olhos grandes e negros. Trajava um terno preto, porém se gravata, mas seu paletó era elegante.
O homem então disse:
- Que noite hein?
-É!
Respondi sem querer conversa.
- Sabe? Eu costumo pensar muito sobre a vida e também sobre a morte...
- Sei, falei sem interesse.
Sabemos que homens nascem e sabemos que morrerão, mas nesse meio tempo a vida é uma surpresa e cada um vive como melhor lhe convir.
-Ótimo, me sentei ao lado de um doido!
- Veja, este lugar é um verdadeiro templo não acha?
Esbocei um sorriso fraco, enquanto abria uma revista Caras, que exibia uma foto da filha da Xuxa sorridente.
O homem me olhou como quem esperava uma aprovação para continuar falando.
Fechei a revista que de qualquer modo não me interessava e voltei a atenção para o velho.
- Templo?
Perguntei de modo ríspido.
- O senhor é algum tipo de padre ou pastor? Por que eu não estou muito a fim de discutir religião, são duas e meia da manhã e...
O homem de terno interrompeu dizendo:
- Sacerdote, eu, ora meu jovem não seja tolo, esse é o limite da sua visão?
E não sabia mais o que dizer, aquele homem devia ter fugido da ala psiquiátrica ou sei lá.
- Você já parou para questionar os limites da mente humana?
Eu sinceramente não tinha resposta para aquela pergunta.
- Parou para pensar no que é real e o que não?
O homem se levantara e agora falava em tom solene.
- Meu jovem você conhece os limites entre o natural e o sobrenatural?
- Acredita em destino?
- As pessoas fazem coisas, meu rapaz, por que devem ser feitas!
O homem falava alto num hospital, seus olhos negros como a noite e frios, agora brilhavam quase demoníacos.
Eu começava a ficar enfeitiçado, como se eu estivesse naquele lugar por algum motivo e tudo, parecia estar começando a fazer sentido.
Eu não sabia por que estava ali, nem quem era aquele homem.
Me aproximei dele lentamente e olhando no fundo dos olhos frios perguntei?
Quem é o senhor? O que quer de mim?
Um sorriso sádico apareceu no rosto do velho.
-Eu... Eu sou a morte!
Um arrepio frio subia pela minha espinha.
E vim aqui para te buscar!
Um silêncio mórbido se fez, o relógio marcava três horas da manhã em ponto e era como se o tempo tivesse parado.
Quando um enfermeiro entrou no corredor lateral, senti com se a sanidade voltasse à minha mente corrompida por um louco.
- Fique longe de mim seu doido!
Falei em tom de fúria
- Se não acredita, veja com seus próprios olhos.
Falou a morte apontando para a maca agora parada no fim do corredor. O lençol estava sujo de sangue, destampei o rosto do cadáver num só movimento e lá esta eu encarando meu próprio rosto! Eu estava morto.
Acordei então num sobressalto. Tinha a respiração ofegante e o peito suado, o relógio marcava três horas da manhã.
Ainda não, pensei, ainda não!

Allan Giovanni da Silva

Um comentário:

  1. Oi lindo, estou aqui na praia e não conseguir não entrar no seu blog... Que sonho estranho, vc eh que teve? Talvez eh algo em você que está morrendo para renascer outra coisa... Quem sabe? Uma coisa boa, tomara...
    Bjaum

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